Casa de jogos é investigada por máquinas que lembram caça-níquel

19 de outubro de 2023

Fachada emoldurada em madeira e, do lado de dentro, nove máquinas modernas, que aceitam notas em dinheiro, contam com painel touch screen e uma roleta na tela, que gira e dá mais ou menos pontos, a depender da combinação das três figuras no visor. O espaço em questão, a Arena Skill, fica na Alameda Barros, Santa Cecília (São Paulo-SP), e ficou aberto por dois meses até ser fechado no dia 25 de julho: a polícia visitou o local e recolheu todos os equipamentos do endereço para perícia.

As máquinas, segundo a Skill Games, dona do local, operam dentro da lei e são diferentes de um caça-níquel, ilegal no Brasil. “Você tem a opção de subir e descer qualquer uma (das três figuras centrais). Tem sistema de bonificação extra, carta curinga. É preciso pensamento rápido, uma agilidade do cliente”, afirma Jefferson Voigtlander, diretor-executivo da empresa, que defende que os equipamentos oferecem jogos de habilidade (permitidos), e não de azar.

A reportagem visitou o endereço em 20 de julho e pediu informações após se apresentar como possível cliente. Além da explicação parecida com a de Voigtlander, a funcionária afirmou que o interessado pode resgatar os pontos adquiridos. “Se eu coloquei 20 reais e agora está (o equivalente a) 300 reais (na pontuação), vou te pagar os 300”, disse a mulher. “Se o cliente quiser resgatar, a empresa analisa, verifica se cai no imposto de renda, senão, já faz o depósito”, diz Voigtlander.

“O que vai determinar a licitude é a análise do que determina a vitória. Tradicionalmente um caça-níquel é uma máquina que se pratica jogo de chance”, afirma o advogado Fabiano Jantalia, do Jantalia Advogados. “Salvo melhor juízo, nesse caso ainda assim o resultado não depende somente da habilidade, mas pode ser ditado pela sorte”, analisa o advogado Fabricio Posocco, do Posocco & Advogados.

A empresa importou os equipamentos dos Estados Unidos: a Skill faz parte de um grupo chileno. Segundo Voigtlander, o endereço na Santa Cecília é um protótipo, o primeiro no país da empresa, que quer expandir. “Temos um plano de franquiar o nosso negócio”, diz o diretor-executivo.

E as apreensões da polícia? “Temos laudos a favor (da legalidade). Não entendemos por que isso está acontecendo”, afirma Voigtlander. A Skill encaminhou para a reportagem documentos relacionados à importação das máquinas, da Receita Federal, e um laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo, de 2021. Procurada, a Receita afirmou que as informações são “protegidas por sigilo fiscal”. A Polícia Civil, que apreendeu equipamentos no local em junho e, em julho, retornou ao endereço e recolheu o restante, diz por meio da Secretaria de Segurança Pública (SSP) que as máquinas foram levadas para perícia técnica e que elabora novos laudos para “identificar se há alguma atividade ilícita” nos equipamentos.

Reportagem: Guilherme Queiroz/Veja São Paulo